terça-feira, 8 de setembro de 2009
Crônica-Rosani-O poder da caneta vermelha
O PODER DA CANETA VERMELHA
Participando de uma reunião pedagógica em minha Escola, observei uma colega professora corrigindo avaliações, “provas”, usando a caneta vermelha. Pensei: estamos em pleno século XXI e a caneta vermelha ainda serve para registrar “certo”, “errado, rabiscar observações e recomendações para os alunos. Fiquei olhando... Ela fazia aquilo de forma rápida, voraz, que as vezes me dava a impressão de ser um movimento mecânico. Pensei: incrível, tudo muda neste mundo, por que a Escola não muda a maneira de olhar para o aluno?
Pensei no poder que alguns professores acham que têm! Um poder que está presente em suas concepções de forma explícita. Esta é a sua verdade. Parece que não há espaço para outro olhar, para outras maneiras de fazer o ato pedagógico. São concepções enraizadas.
E a professora continuava com sua caneta vermelha: firme, convicta de seus gestos, fazendo marcas rápidas e seguras em cada folha. MARCAS! Talvez muitos professores as deixem em seus alunos. Seja qual for a marca, a cicatriz está ali, para toda a vida.
A cor vermelha que o alerta! Mas será, que o perigo, o pare, não pode chegar de outra maneira, para mostrar para o aluno como está o seu processo de aprendizagem? Talvez com menos poder.
O mesmo acontece quando um professor diz: “Esse aí, não quer nada com nada”, se esquecendo que todo mundo sempre quer alguma coisa.
Talvez este aluno não queira o que a gente quer que ele queira, mas certamente, alguma coisa ele quer.
Precisamos criar espaços que incluam a realidade experiência e o conteúdo programático, advindo da dúvida, da descoberta, da vivência, da curiosidade.
Acredito que é necessário entrelaçar o saber do professor com o saber do aluno. É necessário entender o significado e o valor do erro para ambos.
As situações descritas refletem o “poder” que nós professores temos nas mãos. Ali, naquela situação estava representada pela caneta vermelha, mas na maioria dos casos está camuflada atrás das atitudes de desprezo, por aquele que menos sabe, de descaso, por aquele que não se manifesta, pelo “deixar pra lá”, por aquele que não vai fazer diferença.
Este olhar, presente diariamente na sala de aula, é responsável por muitas evasões, desinteresse, abandono as Instituições Escolares. Este olhar , diferenciado do professor que só atente e só enxerga aquele que “sabe”, que tem facilidade.
Aquele professor que não leva em conta o esforço, o raciocínio utilizado para o desenvolvimento do trabalho e que simplesmente “caneteia” um zero, porque a resposta não era aquela solicitada.
Aquele professor que não valoriza o crescimento, o empenho do aluno em tentar superar suas dificuldades e simplesmente ignora, aniquila-o com seu poder, com sua caneta.
Vejo muito despreparo em nossa profissão, muitas injustiças sendo cometidas diariamente em salas de aula. Marcas que serão carregadas por uma vida, poelos alunos. Rótulos que ficarão estampados em seus corações.
Enquanto não existir a preocupação e a consciência que o bom professor é aquele que precisa encantar seus alunos, aquele que consegue ensinar o aluno que tem dificuldades e o solicita, mas também o que se esconde e disfarça suas dificuldades no desinteresse e na apatia.
Com esse desabafo, não estou me abstendo, me excluíndo de minhas responsabilidades enquanto educadora, nem deixando de reconhecer a parcela de “culpa” que o aluno tem com sua falta de comprometimento e responsabilidade. Apenas, acredito , que devemos levar em conta, considerar a nossa vivência e maturidade com relação ao nosso aluno, imaturo e em processo de formação de sua personalidade. Procurando então, na nossa prática educativa, estimula-lo, resgatando seu interesse, fazendo-o acreditar em si e nas suas capacidades.
A Escola pode mudar, sim. Como educadora acredito que pode. Tenho que acreditar.
PROFESSORA ROSANI DE LIMA DA LUZ
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